Bolsa Verde

A preservação ambiental tem sido um desafio crescente, e uma das iniciativas implementadas para enfrentar essa questão é a Bolsa Verde. Esse programa foi instituído em nível federal e em diversos estados brasileiros com o objetivo de incentivar financeiramente proprietários e posseiros que preservam ou recuperam áreas de vegetação nativa.

Mas será que essa iniciativa é realmente eficaz? Ou apenas ameniza um problema maior, que é a falta de regularização fundiária e investimentos estruturais nas Unidades de Conservação? Neste artigo, analisamos os pontos positivos e as limitações desse mecanismo.

O que é a bolsa verde?

A Bolsa Verde é um sistema de pagamento por serviços ambientais destinado a proprietários rurais que mantêm ou restauram áreas de vegetação nativa em suas terras. O incentivo financeiro é proporcional à área preservada, sendo que o limite máximo é de quatro módulos fiscais no município em questão.

Os principais beneficiários incluem:

  • Agricultores familiares e pequenos produtores rurais;
  • Proprietários de terras dentro de Unidades de Conservação, sujeitos à desapropriação;
  • Pessoas que já preservam áreas naturais ou se comprometem a recuperá-las.

Dessa forma, a iniciativa visa estimular a participação ativa dos proprietários na proteção ambiental, garantindo que sejam recompensados financeiramente pelo serviço ecológico prestado.

O problema das Unidades de Conservação no Brasil

Apesar de ser uma estratégia inovadora, a Bolsa Verde expõe um problema estrutural mais profundo: a falta de regularização fundiária das Unidades de Conservação (UCs).

Segundo dados do Ministério Público de Minas Gerais (MP/MG), mais de 70% dos parques brasileiros existem apenas no papel. Ou seja, foram criados sem que o governo promovesse a desapropriação e compensação dos proprietários das áreas inseridas nesses territórios protegidos.

Um exemplo claro dessa situação é o Parque Estadual Serra do Cabral, em Minas Gerais. No local, apenas 3,34% da área foi regularizada, enquanto mais de 21 mil hectares ainda aguardam regularização. Isso significa que muitos proprietários não têm incentivo para preservar suas terras e acabam sem suporte financeiro para continuar suas atividades.

A Bolsa Verde pode ajudar? Sim, mas não resolve a raiz do problema. Sem a regularização fundiária, os donos dessas terras ficam em uma situação de incerteza, sem saber se poderão continuar em suas propriedades ou se serão desapropriados futuramente.

A Bolsa Verde é realmente uma solução?

A Bolsa Verde é um avanço, pois incentiva a colaboração do setor privado na preservação ambiental. No entanto, não substitui a responsabilidade do Estado em regularizar as terras dentro das Unidades de Conservação.

Enquanto o governo não resolve a regularização fundiária, os proprietários continuam sem segurança jurídica, e a proteção do meio ambiente permanece frágil. A principal questão a ser levantada é:

Por que o Estado não promove a regularização fundiária para garantir a proteção dos ecossistemas?

Conclusão

A Bolsa Verde é um instrumento útil para incentivar a preservação ambiental, mas, por si só, não soluciona a precariedade das Unidades de Conservação no Brasil. Sem regularização fundiária e medidas estruturais, a preservação do meio ambiente continuará dependendo de incentivos paliativos e da boa vontade dos proprietários.

Acompanhe as discussões sobre políticas ambientais e participe do debate sobre a preservação dos nossos biomas!

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João Paulo Campello de Castro

Sócio Fundador da Campello Castro. Advogado graduado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, tem mais de 40 anos de experiência. Ex Assessor Jurídico da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente de Minas Gerais, participando da elaboração de normas ambientais,

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