Recursos hídricos

A água é um dos insumos mais estratégicos para a mineração. Desde a lavra até o beneficiamento mineral, passando pelo controle de poeira, transporte de polpa e gestão de rejeitos, praticamente todas as etapas do processo dependem de recursos hídricos. No entanto, a crescente pressão regulatória, os cenários de crise hídrica e a demanda por transparência têm colocado a gestão da água no centro da agenda ESG da mineração.

Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA, 2023), o setor mineral responde por cerca de 7% das outorgas de uso da água no Brasil, com maior concentração em Minas Gerais, Pará e Goiás. Embora esse percentual seja relativamente baixo quando comparado à agricultura (responsável por mais de 70%), a mineração opera em áreas muitas vezes críticas para a segurança hídrica, aumentando a visibilidade e a cobrança por práticas responsáveis.

Nesse contexto, a eficiência hídrica e a redução de passivos ambientais associados ao uso da água deixaram de ser apenas boas práticas: são fatores determinantes para a viabilidade de empreendimentos. O reuso interno de efluentes, a implantação de circuitos fechados de água, a captação de água pluvial e a utilização de tecnologias de filtragem de rejeitos (dry stacking) estão entre as principais soluções adotadas por mineradoras de ponta no Brasil e no mundo.

Além da dimensão operacional, há também o aspecto regulatório. O novo Marco Hídrico de Minas Gerais (Portaria IGAM nº 48/2022) e as atualizações da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº 9.433/1997) vêm ampliando os requisitos para obtenção de outorgas, fiscalização e monitoramento. Nesse cenário, ferramentas como o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB) e os cadastros estaduais de uso de recursos hídricos estão cada vez mais integrados à análise de viabilidade de projetos minerários.

A digitalização também tem revolucionado a gestão hídrica na mineração. O uso de sensoriamento remoto, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) já permite o monitoramento em tempo real de parâmetros como qualidade da água, volume de barragens e eficiência de recirculação. Segundo o relatório “Global Water Intelligence” (2024), o mercado de tecnologias para gestão hídrica no setor de mineração deve crescer 12% ao ano até 2030, impulsionado por regulações mais rígidas e pela necessidade de resiliência frente às mudanças climáticas.

Outro ponto em ascensão é a adoção de Soluções Baseadas na Natureza (SbN), como a recuperação de matas ciliares, a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e o uso de wetlands construídos para tratamento natural de efluentes. Tais medidas, além de atenderem exigências legais, reforçam a licença social para operar e contribuem para a imagem positiva das empresas junto a comunidades e investidores.

Conclusão

O futuro da mineração sustentável passa, inevitavelmente, pela gestão inteligente da água. Empresas que conseguirem reduzir sua dependência hídrica, investir em inovação tecnológica e alinhar-se às melhores práticas regulatórias estarão em posição de vantagem competitiva.

O desafio não é apenas técnico, mas estratégico: integrar a água como ativo crítico dentro da governança ambiental, social e corporativa. Afinal, a água será — cada vez mais — um dos principais indicadores de sustentabilidade e resiliência para o setor mineral no Brasil e no mundo.

Leia também: Alteração dos Critérios Locacionais no Licenciamento Ambiental em Minas Gerais – DN Copam nº 258/2025

Gustavo Nascimento

Graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Federal de Lavras - UFLA (2021) e cursando MBA em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo - USP/ESALQ, vivência na área de consultoria ambiental desde 2021, onde atuou como consultor ambiental no Grupo Executor de Serviços Ambientais - GESA. Atualmente ocupa o cargo de Coordenador de Projetos Técnicos na Campello Castro Mineração e Meio Ambiente. Durante a formação acadêmica participou da Preserva Júnior, empresa Júnior do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFLA, nos cargos de consultor de projetos e equipe de negócios, onde foi possível colocar em prática os conhecimentos adquiridos nas disciplinas, por meio da prestação de serviços a clientes. Além disso, realizou o estágio acadêmico na multinacional Marluvas Equipamentos Profissionais, no cargo de estagiário ambiental.

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