
É inegável que toda atividade humana está sujeita a riscos, sejam eles de natureza operacional, financeira, social ou ambiental. Na mineração, essa realidade se torna ainda mais evidente, visto que se trata de um setor historicamente classificado como de alto risco, seja pela magnitude de suas operações, seja pelas consequências potenciais de incidentes ou falhas. Por essa razão, a análise e o gerenciamento de riscos se consolidaram como ferramentas essenciais para garantir a sustentabilidade, a segurança e a viabilidade econômica dos empreendimentos minerários.
Nas últimas décadas, a adoção de metodologias formais de avaliação e gerenciamento de riscos ganhou destaque, especialmente após grandes desastres que vieram a público, chamando a atenção da sociedade, dos órgãos reguladores e dos próprios investidores. Mais do que uma exigência legal ou regulatória, o gerenciamento de riscos representa uma prática estratégica que visa antecipar cenários, reduzir incertezas e mitigar impactos adversos que podem comprometer não apenas a operação, mas também a imagem e a credibilidade da empresa.
Uma análise de risco eficiente deve começar pela compreensão do contexto em que o empreendimento está inserido, abrangendo tanto fatores externos quanto internos. No ambiente externo, é preciso considerar a legislação e as regulamentações vigentes, que impõem conformidade ambiental, de segurança ocupacional e de gestão de barragens, além das pressões sociais representadas pelas comunidades locais, movimentos organizados e organizações não governamentais. Também devem ser avaliados os aspectos ambientais relacionados ao uso da água, à biodiversidade e à qualidade do ar e do solo, bem como as condições políticas que podem afetar a estabilidade do setor e provocar mudanças em políticas públicas. O cenário econômico, marcado pela instabilidade dos preços internacionais de minérios, custos de produção e logística, somado às expectativas das partes interessadas, comunidades, investidores, órgãos fiscalizadores e clientes, molda a percepção social sobre a atividade minerária e influencia diretamente sua aceitação.
No contexto interno, por sua vez, destaca-se a importância de compreender a estrutura organizacional, garantindo entendimento nas funções e responsabilidades, além de alinhar metas e objetivos estratégicos com a busca pela sustentabilidade e segurança operacional. Os processos de lavra, beneficiamento e disposição de rejeitos devem ser avaliados de uma forma cíclica, considerando os recursos financeiros, humanos e tecnológicos disponíveis para a implementação de controles eficazes. A cultura de segurança desempenha papel fundamental, envolvendo tanto gestores quanto trabalhadores na prevenção de acidentes, enquanto o histórico operacional fornece subsídios importantes ao registrar falhas, incidentes e medidas corretivas já adotadas.
Definir o escopo, os limites e as responsabilidades no processo de gerenciamento de riscos é um processo mais do que importante, é essencial. Essa etapa garante clareza quanto aos objetivos e estabelece a base para que o monitoramento seja contínuo e sistemático. Além disso, esse sistema contribui para uma melhor alocação de recursos, evitando desperdícios e maximizando os resultados das ações preventivas em todas as áreas gerenciáveis. Portanto, a análise de risco na mineração não deve ser vista apenas como uma exigência normativa, mas como um instrumento estratégico para a sustentabilidade do setor.
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