Mineração Sustentável

O setor minerário e o ambiental vivem um momento de inflexão. A aceleração da transição energética global, aliada a pressões regulatórias, sociais e climáticas, tem reposicionado a mineração como protagonista — mas também como responsável — dentro de uma nova lógica de mercado: a mineração sustentável e estratégica.

A busca global por minerais críticos — como lítio, níquel, cobalto e terras raras — impulsionada pela eletrificação da mobilidade, energias renováveis e digitalização, tem gerado uma demanda inédita por projetos minerários. Segundo dados do World Bank (2023), a produção de minerais estratégicos pode crescer até 500% até 2050. Neste cenário, o Brasil, com sua expressiva diversidade geológica, tem uma janela de oportunidade para se consolidar como fornecedor global de minerais para a transição energética.

No entanto, essa expansão não virá sem condicionantes. O licenciamento ambiental, a governança social e o atendimento às exigências ESG tornaram-se fatores críticos para viabilização de empreendimentos. A agilidade nos processos regulatórios, sem abrir mão da responsabilidade ambiental e social, será um dos maiores desafios — e também uma das maiores oportunidades para empresas de consultoria e engenharia ambiental.

Além disso, a agenda climática tem ganhado força, especialmente após o avanço da regulamentação do mercado de carbono no Brasil, com a aprovação do Projeto de Lei 412/2022 no Congresso. A partir disso, surgem novas frentes de atuação: elaboração de inventários de emissões, planos de descarbonização, créditos de carbono e soluções baseadas na natureza (SbN), como reflorestamento e recuperação de áreas degradadas em regiões mineradas. De acordo com o Instituto Clima e Sociedade (iCS, 2024), o mercado regulado de carbono no Brasil tem potencial para movimentar R$ 120 bilhões por ano até 2030, sendo um vetor direto de novos investimentos
Paralelamente, tecnologias como sensoriamento remoto, machine learning e sistemas de monitoramento em tempo real vêm revolucionando a forma como gerenciamos impactos ambientais. A integração entre geotecnologias e bancos de dados ambientais permite um controle mais assertivo sobre parâmetros críticos como estabilidade de taludes, qualidade da água, emissões atmosféricas e geração de resíduos. Conforme destaca o Mineral Commodity Summaries (USGS, 2024), soluções digitais já são consideradas padrão operacional em grandes players internacionais, é a mineração inteligente se conectando à sustentabilidade.

Outro ponto de destaque é a valorização dos resíduos e rejeitos. O reaproveitamento de estéreis e a transformação de passivos em ativos, com base nos princípios da economia circular, já não são mais experimentações: são realidade. Projetos de reaproveitamento de barragens antigas, pilhas de rejeito com potencial econômico e novos usos para resíduos de beneficiamento são cada vez mais buscados, tanto por sua viabilidade técnica quanto por seu potencial de atrair investimentos com viés sustentável. Segundo o IBRAM (2024), a revalorização de resíduos representa uma das principais frentes de inovação do setor mineral brasileiro na próxima década.

O mercado também tem sinalizado uma valorização crescente por soluções integradas, onde o conhecimento técnico se alia à visão estratégica de negócio. Consultorias ambientais e minerárias que entregam mais do que conformidade — que pensam junto com o cliente, que agregam inovação, transparência e visão de futuro — são as que mais se destacam.

Com trajetória na interface entre projetos ambientais e o setor minerário, posso afirmar que nunca houve tanto espaço para profissionais com perfil multidisciplinar, capazes de transitar entre o técnico, o regulatório e o estratégico. A demanda não é apenas por geólogos, engenheiros ou biólogos — é por pessoas que compreendam o todo: desde a viabilidade técnica até a sustentabilidade como diferencial competitivo.

Conclusão

Estamos diante de um momento-chave para o setor ambiental e minerário no Brasil. O crescimento sustentável deixou de ser um discurso para se tornar um imperativo de mercado. Empresas que souberem unir eficiência operacional, responsabilidade socioambiental e inovação terão vantagem competitiva real.
O futuro da mineração é verde, digital e colaborativo. E ele já começou.

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Gustavo Nascimento

Graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Federal de Lavras - UFLA (2021) e cursando MBA em Gestão de Projetos pela Universidade de São Paulo - USP/ESALQ, vivência na área de consultoria ambiental desde 2021, onde atuou como consultor ambiental no Grupo Executor de Serviços Ambientais - GESA. Atualmente ocupa o cargo de Coordenador de Projetos Técnicos na Campello Castro Mineração e Meio Ambiente. Durante a formação acadêmica participou da Preserva Júnior, empresa Júnior do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFLA, nos cargos de consultor de projetos e equipe de negócios, onde foi possível colocar em prática os conhecimentos adquiridos nas disciplinas, por meio da prestação de serviços a clientes. Além disso, realizou o estágio acadêmico na multinacional Marluvas Equipamentos Profissionais, no cargo de estagiário ambiental.

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